Pai, quero-te
dizer as coisas
Que não te disse
em vida e vou-tas dizer agora
Para que as ouças
através
Dos ouvidos
daqueles que te amam e te guardam na memória.
Toda a vida te
amei e só tarde o percebi,
Toda a vida o
soube mas só agora o senti.
Para saber dar
valor ao que se tem
Temos que o
perder primeiro
E contigo, meu
pai, foi no momento derradeiro.
Hoje recordo toda
a tua vida
Junto com as
histórias à lareira,
Tenho pena de não
ter aproveitado
Todas as horas,
desde a primeira.
Que te amo muito
espero que soubesses
E desculpa por
algum carinho que não fiz.
Se fosse hoje não
sei se seria diferente,
Mas a vida não
volta atrás e eu não posso mudar o que vivi.
Ao pensar na dor
que senti
Quando te vi
fechar os olhos
Penso que nunca a
discorri
E as lágrimas
correm-me aos molhos.
É certo que há
neste mundo muita injustiça
E tu és exemplo
dela.
Quem lutou o que
tu lutaste,
E quem penou o
que tu penaste
Era para teres
tido uma velhice bela.
Todos temos
aquilo que Deus quer
E ninguém foge da
morte,
Há quem nasça a
favor da lua,
E quem tenha toda
a vida pouca sorte.
Agora que te
foste
Todos choramos de
saudade,
Mas temos que
agradecer por Deus ter tido piedade.
19 de Junho de 1997